quinta-feira, 23 de junho de 2011

PEDAGOGIA POR PRINCÍPIOS

Fontes epistemológicas
O maior problema de todo pensar humano é compreender o homem
como personalidade livre baseada em si mesma
Rudolf Steiner

Só alcança a liberdade, assim como a vida,
quem diariamente a deve conquistar
Goethe (Fausto)
As citações aqui selecionadas constituem linhas mestras do pensamento do Dr. Rudolf Steiner, fundador do movimento universal das escolas Waldorf.
De sua biografia cabe destacar que o Dr. R. Steiner nasceu em Kraljevic (a atual Croácia), em 1861, e faleceu em 1925. Estudou Ciências Naturais e Matemática na Universidade Tecnológica de Viena. Ao mesmo tempo, dedicou-se a aprofundar temas político-sociais, realizando estudos literários e filosóficos. Foi o autor e editor do prólogo da primeira edição das Obras Científicas Completas de Göethe.

Goethe, como investigador, conseguiu transcender no seu estudo da botânica o meramente físico, para alcançar o conhecimento das forças vitais que configuram o que denominou a "planta arquetípica", por meio do desenvolvimento da idéia da metamorfose. Entende por ela as leis básicas que impulsionam o processo de crescimento mediante uma constante modificação morfológica.
Goethe comprovou que na diversidade dos organismos impera o princípio de que em cada fase de desenvolvimento estão contidas outras. Esse princípio transcende a mera observação da essência do mundo e dos fenômenos universais. Só a partir da dualidade eu-mundo, é que se pode alcançar uma compreensão tal que funde o investigador numa unidade vivencial harmônica com os processos que ele estuda.
Rudolf Steiner retomou esse trabalho, aprofundou-o e ampliou-o a todos os reinos da natureza, incluindo o ser humano.
Nesse estudo aprofundado, Rudolf Steiner mostra como o Homem contém em si cada reino da natureza. Assim, o reino mineral está presente no Homem, os ossos e em toda a estruturação do corpo físico. O reino vegetal se manifesta no homem através dos processos vitais presentes nos líquidos humorais e sangue, similares à seiva na planta. Por sua vez, o reino animal está no Homem em seus instintos e sensações. Porém, o princípio de liberdade individual, de autoconsciência, só existe no reino humano e isto torna o homem um ser pertencente, simultaneamente, ao reino natural-físico e ao espiritual, portanto, sujeito às leis de ambos.
Rudolf Steiner publicou também uma série de trabalhos que tencionavam responder a questões nos âmbitos científicos e filosóficos daquela época, entre elas: É o homem um ser espiritual livre em seu pensar e atuar ou está predeterminado pelas leis da natureza? Ele aprofundou suas investigações sobre Kant e os idealistas alemães, em especial Fichte, procurando explicar essa dicotomia, a partir da concepção goetheanística do homem como unidade psico-físico-espiritual.
Em sua obra, A Filosofia da Liberdade, Rudolf Steiner buscou estabelecer uma analogia entre as experiências sensoriais e as experiências espirituais, propondo uma metodologia científica.
Sua contribuição inédita consistiu em ter desenvolvido um método de investigação rigoroso que permite incursionar tanto no campo do físico-sensível como no plano espiritual. Esse método permitiu-lhe enfocar e estudar, a partir de ambos os pontos de vista, o ser humano, o universo e todas as relações e inter-relações existentes com uma visão holística, global, a respeito da origem, do desenvolvimento, das metas dos seres e do mundo.
Steiner desenvolve a Antroposofia, definindo-a como um caminho de conhecimento capaz de dar respostas rigorosas e comprováveis a todos os campos relacionados ao homem e a seu mundo.
A Antroposofia entende o ser humano como um microcosmo no qual vibram e pulsam os processos do universo. Centrando seu estudo no homem, tenta responder às suas necessidades, abarcando o científico, o cultural e o artístico-religioso, trazendo para a sociedade impulsos de aplicação prática concreta.
2. Fontes sócio-antropológicas
Sobre a base de sua investigação científica e fiel à idéia do homem como unidade, Rudolf Steiner elaborou uma concepção do ser humano e da vida que deu origem a novos impulsos em todos os setores do conhecimento humano: a Pedagogia, a Medicina, a Arquitetura, a Agricultura, a Organização Social, a Arte, etc.
Suas iniciativas pretendem responder às necessidades essenciais do homem e aos problemas do indivíduo e da sociedade moderna e, por conseqüência, pós-moderna. Em relação a isto, desenvolveu nos últimos anos de sua vida uma intensa atividade, tratando de trazer soluções à crise política, social e pedagógica, estabelecida na Europa, depois da primeira guerra mundial.
Rudolf Steiner antecipou a crescente dimensão da problemática social e ecológica com que se haveriam de enfrentar as jovens gerações do século XX em todo o mundo, e assinalou que, para a abordagem dessa difícil tarefa, não é suficiente a aquisição de conhecimentos científicos e técnicos: o fundamental reside em conseguir um pensamento vivo e global, que permita atuar com independência e capacidade de iniciativa, com competência para uma tomada adequada de decisões e um atuar autônomo sustentado na responsabilidade social. Para isso, deve-se enfatizar o aspecto meio-ambiental e multicultural da educação. As ferramentas que irão prover tal educação deverão procurar uma flexibilidade, uma qualificação básica multidisciplinar, um interesse ativo por todos os aspectos da vida e uma vontade comprometida com o social.
A partir da análise das dimensões específicas do ser humano: o pensar, o sentir e a vontade, Rudolf Steiner firmou as bases de uma educação que tende a responder às necessidades atuais e futuras da humanidade. Segundo ele, uma sociedade só pode configurar-se e desenvolver-se de forma sadia e adequada às solicitações da época se levar em conta as dimensões essenciais do ser humano.
É sobre a base desse mesmo princípio que concebeu a Trimembração do Organismo Social. Para isso, revalorizou os impulsos da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, como diretrizes máximas das diferentes funções sociais. Concebeu a Liberdade como o princípio básico que deve reger a vida cultural-espiritual; a Igualdade como alicerce fundamental da questão jurídico-legal e a Fraternidade como sustento imprescindível para a atividade econômica. Na educação, isso significa desenvolver na criança as bases para um pensamento claro e preciso, isento de preconceitos e dogmas, o que leva à liberdade; sentimentos autênticos não massificados e que respeitem os demais, num marco de igualdade de direitos e obrigações, e uma capacidade vigorosa de sustentar responsavelmente a fraternidade na vida econômica do futuro.
Essa visão do homem e da sociedade alimenta e sustenta tudo o que é feito nas escolas Waldorf do mundo inteiro, tanto na ação pedagógica como no que se refere à sua organização institucional de autogestão colegiada e interação sócio-comunitária. Com relação a isto, os princípios de Liberdade no pensar, Igualdade no jurídico-legal e Fraternidade no econômico regem a organização institucional das escolas Waldorf, que funcionam operativamente segundo a forma democrática e republicana. Para isto, tem-se substituído a ordem hierárquica por uma condução colegiada de que participam todos os docentes, com iguais direitos e obrigações.
Os mesmos princípios básicos regem a organização administrativa, para a qual os pais se organizam junto à Conferência Interna (composta pelos professores mais experientes da escola) e nos diferentes grupos de trabalho que incluem a esfera sócio-comunitária.
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