Desde que eu me tornei mãe, a maternidade e todos os assuntos que a rodeiam, me fazem refletir bastante. Já escrevi alguns textos a respeito e até já tive um blog voltado para esse universo. Mas hoje eu quis trazer uma abordagem diferente e quero aproveitar para falar sobre a minha mãe.

Venho estudando muito na faculdade a importância da figura materna, seja ela exercida por quem for, na construção da identidade do filho. Lógico que nesses momentos eu penso mais no meu papel como mãe, já que essa é a questão mais latente da minha vida e a área em que eu tenho mais vontade e preocupação de acertar. Mas também levo os questionamentos para o meu papel como filha e a relação com a minha mãe. Fico pensando em toda a preocupação que ela teve comigo e como ela acertou tanto, mesmo sem todo o conhecimento que hoje nos é disponibilizado.

Em sala estudamos também aquela fase em que o filho desconstrói o ideal que criou sobre os seus pais, especialmente, sobre a sua mãe. Como é difícil para todos esse momento, mas ao mesmo tempo, como é importante para a construção da relação que se vai ter para o resto da vida. Porque a infância é um período curto comparado com todo o resto, mas ela é determinante em muitos aspectos que estarão presente por toda a vida. Ao final dela, ainda vem a adolescência, aonde acontece aquele distanciamento entre filhos e pais, que hoje eu entendo ser necessário. Aquele é o momento em que o jovem precisa se afastar dos olhares viciados e do conhecido para se descobrir como um ser singular. Porque ao mesmo tempo em que os pais ajudam, eles também atrapalham, já muitas vezes, protegem demais.

Então, que feita essa introdução, que tem me feito pensar bastante sobre muitas coisas, concluí que a minha mãe é foda. Esses dias ela ainda brigou comigo porque, às vezes, solto um palavrão, mas juro que na hora em que comecei a escrever essa frase, só consegui pensar nessa definição. F-O-D-A.

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Minha mãe, mais ou menos, com a minha idade. Só queria os olhos azuis…

Como trilha sonora agora, ouço essa música do James Taylor, porque ela me traz lembranças maravilhosas. Lembro como se fosse hoje, eu e minha irmã, ainda bem pequenas, cantando junto com a minha mãe. E enquanto a escutava, deixei o coração e a minha alma escreverem algumas lembranças que me vieram à cabeça e compartilho elas com vocês. Juro que tento separar um pouco as áreas da minha vida, o que é público e o que é privado, mas eu sou uma só e, às vezes, tudo se embaralha mesmo.

Minha mãe me lembra carinho nas costas antes de dormir.

Me lembra capricho nos cadernos e lanches especiais quando eu ia bem nas provas da escola.

Me lembra tomada de matéria antes do almoço e muito acesso à livros e conhecimento.

Minha mãe me lembra fotos e filmes, que hoje só comprovam como eu tive uma infância maravilhosa.

Me lembra atenção e aquele colo, que de longe, é o melhor lugar do mundo.

Me lembra uma leoa, porque ela se transforma, até hoje, quando mexem com as suas crias.

Minha mãe me lembra as melhores festas de aniversário. Quem nos conhece sabe o esforço que ela tinha em nos proporcionar, mesmo sem tantas condições, as melhores comemorações. Quase tudo era feito à mão e com tanto amor. Não é a toa que até hoje, amamos comemorar aniversário lá em casa.

Ah, ela também me lembra os melhores brigadeiros que eu já comi.

Minha mãe me lembra apoio para que eu fosse atrás dos meus sonhos. Foi a maior incentivadora para que eu morasse fora do Brasil e quem me levou numa feira de cursos no exterior quando eu pensei em fazer pós fora.

Me lembra impulso, porque foi ela quem me deu de presente a consultoria literária, que mudou os rumos dos meus sonhos.

Mesmo sem expressar muitas vezes, verbalmente que me apóia 100%, afinal, como toda mãe, tem receio de que eu siga por uma carreira cheia de vicissitudes, eu sei que posso contar com ela sempre que precisar.

Minha mãe me lembra que muito mais importante do que acertar nos escolhas referentes aos filhos,  o importante é dar amor e demonstrar esse amor.

Que muito mais importante do que, essa balela que dizem por aí, de que o que vale é a qualidade do tempo, a quantidade e a presença são muito importantes.

Ela me ensinou, mesmo que de forma sutil e, por vezes, controversa, já que esse ensinamento em alguns momentos se voltou contra ela, a ser alguém que questiona, que reflete e que argumenta. 

Enfim, se hoje muitas pessoas entram aqui e se dizem admiradas com a minha maturidade e com a minha maneira de enxergar a vida, eu devo isso à ela. E é tão bom admitir e demonstrar essa gratidão, porque ninguém nasce pronto. São nas relações que nos construímos, especialmente, inseridos no nosso sistema familiar. Diante de uma mãe firme, mas amorosa, uma mãe que é uma profissional competente, mas que está sempre disponível, eu fui crescendo, me desenvolvendo e me tornei o que eu sou hoje.

Por isso mãe, mesmo que às vezes nós tenhamos as nossas diferenças, afinal, somos sujeitos singulares (mas bem parecidas), deixo aqui, através das palavras escritas, que são o melhor meio pelo qual eu me comunico, a minha gratidão e todo o meu amor.

Com relação ao presente, concluí que chega um momento da vida em que tudo de material já foi dado, o que torna mais evidente que o que importa mesmo é a entrega do amor e a presença. Também sei que o melhor presente que eu te dei e que eu te dou todos os dias em que estamos juntas, é o nosso João. Não canso de ficar olhando para a ligação entre vocês dois. Sempre me volta a cena do dia em que eu te contei que estava grávida. Passado o momento tenso da notícia, ficamos as duas mudas assistindo televisão. Mas eu, mesmo inebriada com tantas novidades em tão pouco tempo, me consolava com a certeza de que logo logo, toda aquela confusão de dissiparia e que você seria a avó mais apaixonada do mundo. João está aí para comprovar a beleza da continuação da vida. Se hoje eu sou uma boa mãe, é porque eu tive você como exemplo. Se hoje eu estou com uma vontade louca de ter outro filho, é porque você me passou o quão rica a maternidade pode ser e o quanto nos tornamos pessoas melhores depois que viramos mãe.

Te amo e espero passar todos os segundos domingos de maio ao seu lado, demonstrando a minha gratidão. Mesmo que de forma desajeitada.

Beijos, Juca