quarta-feira, 15 de junho de 2011

alfabetização

Algumas observações sobre os trabalhos encaminhados na área de Alfabetização para o Prêmio Educador Nota 10 – 2006


As características mais recorrentes dos trabalhos são:

- presença da interdisciplinaridade
- excesso de conteúdos e objetivos propostos em uma seqüência ou projeto didático para o tempo a ele destinado
- problemas conceituais entre as concepções de ensino e aprendizagem e esforço em incorporar a teoria da Psicogênese da língua escrita na prática de sala de aula
- valorização excessiva do propósito social do projeto em detrimento dos propósitos didáticos
- valorização da brincadeira como agente principal de aprendizagens
- premissa de que alunos provenientes de famílias carentes têm dificuldades de aprendizagem
- relação entre a qualidade do trabalho apresentado e a participação em programas de formação continuada específicos para alfabetização


Presença da interdisciplinaridade


A grande maioria dos trabalhos traz a interdisciplinaridade como um requisito metodológico. Os professores definem o conteúdo em alfabetização e em seguida anunciam a articulação com as outras áreas de conhecimento. O problema é que, muitas vezes, não existe uma real integração do conteúdo com as outras áreas e nem a clareza de como trabalhar com cada uma delas respeitando sua especificidade e a transposição didática. O resultado é que muitos trabalhos não conseguem aprofundar o ensino dos conteúdos eleitos, pois acabam abordando superficialmente as diferentes áreas, sem garantir aprendizagens efetivas, transformadoras. A necessidade de assegurar a presença de várias áreas de conhecimento em um trabalho gera um tratamento superficial e artificial dos conteúdos e uma abrangência que não incide na aprendizagem dos alunos.


Excesso de conteúdos e objetivos propostos em uma seqüência ou projeto didático


Em muitos trabalhos, observa-se a falta de clareza da interdependência entre os conteúdos e objetivos. Não há coerência entre os conteúdos propostos e o que se espera de aprendizagem dos alunos. Há trabalhos em que há muitos conteúdos e poucos objetivos e vice-versa (destaco dois para exemplificar – um deles tinham 82 conteúdos para 4 objetivos e outro com 3 conteúdos para 54 objetivos). Esta questão revela certa dificuldade em definir os conteúdos de ensino para atender determinados objetivos de aprendizagem – algumas vezes propõe-se trabalhos sem intencionalidade educativa, desconhecendo o que, realmente, se pode alcançar com ele.


Problemas conceituais entre as concepções de ensino e aprendizagem e o esforço em incorporar a teoria da Psicogênese da língua escrita na prática de sala de aula


Em muitos trabalhos observa-se uma proposta de alfabetização híbrida, marcada por idéias teóricas de diferentes concepções de alfabetização. A impressão é que isso acontece pelo desejo dos professores em acertarem articulado ao desconhecimento das teorias subjacentes às práticas de alfabetização mais recorrentes. Em muitos trabalhos observa-se um esforço importante de incluir o uso dos textos na sala de aula, mesmo sem saber muito bem como fazê-lo. É o desejo de ampliar a concepção de alfabetização para além do conhecimento do código escrito, mas sem a compreensão que assegura a intencionalidade de ir além.
A maioria dos trabalhos apresenta os níveis de conceitualização da escrita da Psicogênese para avaliar seus alunos, mas não sabe o que fazer adiante para ajudá-los a avançar em seu processo de aprendizagem.



Valorização excessiva do propósito social do projeto em detrimento dos propósitos didáticos


A quase totalidade dos trabalhos lidos elege o projeto como modalidade organizativa. No entanto, nos projetos descritos não aparece a interdependência entre propósitos sociais e didáticos – há uma valorização excessiva e uma sobreposição do propósito social em relação aos didáticos. Sabemos que o propósito social traz mais sentido para os alunos na medida em que definem uma intenção comunicativa para os textos que serão escritos, mas são os propósitos didáticos que desvelam a intenção de ensino e de aprendizagem. Há trabalhos em que praticamente 80% é dedicado à descrição dos procedimentos para produzir o produto final que, em sua maioria, é uma festa, uma exposição, um sarau – descreve-se a montagem do palco, do convite, da música, mas não há referência da aprendizagem dos alunos, da transformação do conhecimento em relação à leitura e à escrita.



Valorização da brincadeira como agente principal de aprendizagens

São muitos os trabalhos em que a preocupação central é encontrar uma forma de aprender brincando. A idéia é que o sentido da aprendizagem está no lúdico. Seria importante desmistificar esta teoria que professa duas premissas equivocadas: a de que as crianças só aprendem se estiverem inseridas em um contexto lúdico e de que, realmente, é muito fácil aprender, de que tudo se aprende brincando (sem perturbações, angústias ou dificuldades). É uma fronteira muito delicada entre a criação de uma situação contextualizada de ensino e aprendizagem para as crianças (e que pode ter ludicidade) e ter a brincadeira como condição didática da aprendizagem de qualquer conteúdo.


Premissa de que alunos provenientes de famílias carentes têm dificuldades de aprendizagem

Para minha surpresa a idéia de que os alunos provenientes de famílias carentes têm dificuldades de aprendizagem é uma premissa ainda presente em muitos trabalhos. Na apresentação dos trabalhos e nas justificativas, é comum encontrar a idéia de que os alunos têm dificuldade de aprendizagem porque moram na favela. Dos 352 trabalhos lidos, apenas 4 comentaram o fracasso da escola em não conseguir ensinar os alunos nas séries adequadas. As famílias e a condição sócio-econômica dos alunos continuam sendo responsabilizadas pelo histórico de fracasso.
Este é um assunto que merece atenção, pois os professores precisam reconhecer a responsabilidade da escola para alfabetizar os alunos – se as condições sócio-econômicas são excludentes, cabe a escola se esforçar para inclui-los socialmente como leitores e escritores.


Relação entre a qualidade do trabalho apresentado e a participação em programas de formação continuada específicos para alfabetização

Os trabalhos que mais se destacaram foram aqueles em que os professores participam de programas de formação continuada específicos para alfabetização.



Nenhum comentário:

Postar um comentário