domingo, 13 de março de 2011

Medo


O medo, seja ele real ou não, provenha ele de perigos internos ou externos, está ligado ao sentimento de desamparo e impotência que o indivíduo experimenta desde o seu nascimento e ao longo do penoso e difícil caminho que percorre rumo ao amadurecimento.

Quando um medo irracional de situações que estão longe de representar uma ameaça real se torna persistente resultando em um evitamento de forma consciente de objetos, atividades, situações ou animais, damos-lhes o nome de fobia. A fobia implica em um aumento de ansiedade, até um limite que impeça a pessoa de exercer suas atividades normalmente, pois provoca um intenso mal-estar, quase sempre acompanhado de sintomas físicos desagradáveis como aceleração dos batimentos cardíacos, sudorese, falta de ar, ondas de calor ou de frio, vertigem, palpitações, formigamento, entre outros. Também pode provocar uma sensação de morte eminente.

Muito embora possa se desenvolver fobia a qualquer coisa, existem três tipos básicos de fobia, são eles: a agorafobia, que é o medo mórbido de se achar sozinho em grandes espaços abertos ou de atravessar lugares públicos ou de viajar desacompanhado; a fobia social, que aparece em situações de exposição pública como ser apresentado a alguém, participar de reuniões, falar em público, escrever ou simplesmente assinar um cheque na frente de outras pessoas; as fobias específicas que correspondem aos medos irracionais e persistentes na presença ou por antecipação de situações específicas, como andar de elevador, viajar de avião, tomar injeções, ficar em lugares fechados, dentre tantos outros.

Para Freud, medo, ansiedade e angústia são sentimentos próximos e que em muitos momentos se confundem. O psicanalista considerou que o determinante fundamental da ansiedade é a ocorrência de uma situação traumática, ou seja, uma experiência de desamparo frente ao acúmulo de excitação de origem externa e/ ou interna e com a qual o ego da criança, ainda imaturo, não pode lidar. Portanto, em momentos subsequentes na vida, a ansiedade pode surgir como sinal de uma resposta do ego a uma situação de perigo que guarda semelhança com a situação traumática inicial.

Justamente pela grande dependência que o ser humano tem ao nascer, por ser imaturo e incapaz de prover sua própria sobrevivência, fazendo-se imprescindível a presença de alguém que possa assumir os cuidados necessários para o crescimento, é que os perigos externos e ou internos são facilmente detectados pelo ego. Para Freud, estes perigos modificam-se de acordo com a fase de desenvolvimento da criança, mas possuem uma característica comum: a separação ou perda do objeto amado ou perda do seu amor.

Melanie Klein, em sua forma particular e criativa de descrever o aparelho mental, supôs que a vida psíquica é determinada pela polarização entre pulsões de vida e pulsões de morte. Por pulsão de vida referiu-se aos aspectos amorosos e integradores e por pulsão de morte, aos aspectos agressivos e desagregadores. Considerou que ambos são inatos e estão presentes na mente desde o nascimento. Diferente de Freud, Klein não falou de fases do desenvolvimento, mas descreveu dois modos de funcionamento mental que denominou de posições: a posição esquizoparanoide e a posição depressiva. A cada uma delas designou um tipo de ansiedade, ou como também se pode dizer, de medo.

Na posição esquizoparanoide encontra-se a ansiedade persecutória que corresponde aos temores de se sentir à mercê dos perigos internos e externos e de suas ameaças. É sentida como medo do aniquilamento e assume a forma de medo de perseguição. À medida que a criança vai se sentindo mais segura e que as experiências de satisfação predominam sobre as de frustração, ela se dá conta de sua dependência da mãe, e é justamente quando, de acordo com essa autora surge a posição depressiva. Ao perceber sua dependência, a criança passa a temer a perda deste objeto amado que lhe proporciona vida e segurança, então eclode a ansiedade de separação, ligada aos medos da perda do objeto amado e de seu amor.

Seguindo outra linha de pensamento, Donald Winnicott, psicanalista inglês, sublinhou o papel do ambiente no desenvolvimento da criança. Para ele, quando um bebê nasce é um somatório de partes físicas e psíquicas que se encontram em um estado de não integração, que implica em uma "não consciência". A integração do ego se faz a partir deste estado primário não integrado, e é construída gradativamente mediante o contato do bebê com a mãe, dando a ele a noção de que é uma unidade coesa e integrada em si mesma. Esta experiência leva a outra: a da diferenciação.

Para que este estado de integração, que é conquistado gradualmente, ocorra, o bebê precisa contar com um ambiente favorável e com uma mãe, que Winnicott denominou de "suficientemente boa", ou seja, que a mãe por meio do seu cuidado e manejo, possa prover seu bebê e proporcionar seu desenvolvimento rumo à integração e à independência. Quando a mãe não consegue proporcionar ao bebê esse desenvolvimento satisfatório, o estado de integração não se solidifica, produzindo na criança sentimentos de ansiedade, ou de medo, que Winnicott classificou como do tipo psicótico, que são: medo da desintegração, terror de cair no vazio, de despedaçar-se e de não sentir-se conectado com o próprio corpo.

Este breve passeio por algumas das mais importantes teorias psicanalíticas mostram que o medo, seja ele realístico ou não, provenha de perigos internos ou externos, está ligado ao sentimento de desamparo e impotência que o indivíduo experimenta desde o seu nascimento e ao longo do penoso e difícil caminho que percorre rumo ao amadurecimento.


A agoratobia é o medo mórbido de se achar sozinho em grandes multidões e em grandes espaços abertos, tais como lugares públicos de comum visitação em nosso cotidiano.

A fobia se reflete em alguns sintomas fisicos, como aceleração do batimento cardíaco, falta de ar, sensação de desmaio, entre outros malefícios. Isso graças ao forte efeito da ansiedade e do estresse que o excesso de medo causa.

A criança teme a perda do objeto amado que lhe proporciona vida e segurança.

Um comentário:

  1. Muitos são os nossos medos. Sem eles, porém, em doses moderadas, não poderíamos viver. Seríamos demasiados destemidos e nos aventuraríamos sem medirmos as consequências. A vida é o equilíbrio de tudo, até daquilo que julgamos ser ruim.

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