quarta-feira, 30 de março de 2011

“Mais do que entender seus filhos, os pais precisam saber como educá-los”

Katia Melo

De quatro décadas de trabalho com crianças com problemas psicológicos, o psiquiatra francês Marcel Rufo extraiu lições sobre dificuldades comuns a todos os pais – como o meio-termo entre equilíbrio e superproteção e a abordagem da sexualidade dos filhos. Rufo discute essas questões em dois livros recém-lançados, Me Larga! Separar-se para Crescer e Tudo o Que Você Jamais Deveria Saber sobre a Sexualidade de Seus Filhos (editora Martins Fontes).

ÉPOCA – Por que o senhor diz que os pais de hoje querem compreender os filhos, mais que educá-los?
Marcel Rufo – Os pais de hoje fizeram progressos extraordinários em relação aos de antigamente. Os filhos nunca foram tão bem criados. Do ponto de vista físico, corporal, não há mais preocupações. O problema que resta aos pais é se os filhos vão ser felizes e inteligentes. Para isso, é preciso compreendê-los. Hoje, os pais, mais que educar, tentam entender seus filhos. E compreender é mais democrático que educar. Houve uma “democratização” da família, que virou uma espécie de sindicato em que todos podem falar e debater. É por isso que os filhos, que não são bobos, não nos abandonam mais. Eles têm mais dificuldade para partir que para ficar.

ÉPOCA – Isso quer dizer que o progresso dos pais não é necessariamente bom?
Rufo – Os pais progrediram, mas é preciso que aprendam a não ser tão bons assim. O psicanalista inglês Donald W. Winnicott (1896-1971) criou um conceito muito interessante, o de “good enough mothers”, “mães boas o suficiente”. Esse termo mostra bem o que é preciso fazer. Ser um pai mediano, e não excelente, ajuda as crianças. No fundo, os filhos nos amam por nossos defeitos, mais que por nossas qualidades.

ÉPOCA – Como evitar a superproteção?
Rufo – Separar-se de uma criança é respeitar seu gosto pela aventura e pela descoberta. É preciso, de vez em quando, deixar segredos para que os filhos façam suas próprias descobertas, o que não ocorre quando os pais estão sempre presentes. Cabe às crianças, sozinhas, “redescobrir” as coisas que nós mesmos descobrimos quando tínhamos a idade delas.

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