segunda-feira, 30 de maio de 2011

PAIS, COMPANHEIROS E AFETUOSOS PAIS, COMPANHEIROS E AFETUOSOS Escrito por Vera Fori - OESP



O modelo de pai autoritário, frio e avesso a demostrações de afeto se destancia cada vez mais da realidade. Pais e filhos mais próximos é o que se espera da paternidade na vida moderna Para entender melhor os conflitos nas relações de pais e filhos, deve-se refletir sobre o que os especialistas chamam de "crise do macho". É da mulher parte da responsabilidade da confusão do homem em lidar com suas emoções. Ela, ao mesmo tempo em que expressa melhor seu afeto e cuida do outro com uma vocação natural, inconscientemente o manipula. Percebendo, ele se afasta. O homem é igualmente sensível, mas se expressa no seu idioma de forma mais assertiva, menos expansiva e verbalizada, o que se reflete nas relações familiares.

A observação é do psiquiatra Luiz Cuschnir, supervisor no Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e coordenador do Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher (IDEN). À frente do Gender Group, ele é pioneiro no atendimento específico de homens, onde um dos trabalhos em grupo é justamente sobre a paternidade e o legado de valores que o papel acarreta.

O trabalho é tão arraigado na cultura masculina, que o homem se mostra ao mundo como profissional e não como pessoa, e não é por aí. "A vida emocional é um terreno fértil que, estando bem, reflete na vida profissional, sexual, familiar e social como um todo, só tendo a ganhar com isso".


Um dos caminhos para elaborar melhor seus sentimentos é o ambiente de trabalho. Cuschnir atende empresas e instituições atentas às mudanças que a vida moderna acarretou à identidade masculina.

Nas reuniões de grupo busca-se, também, entender esse novo homem, que mudou bastante em relação à paternidade. Hoje, não é mais chamado de maternal se cuida do filho, tampouco imita a mulher porque tem seu próprio referencial de afeto.

- O homem está mais aberto na relação com os filhos. Quem já está envolvido, percebe que cuidar deles é um privilégio, não uma obrigação. Abriu-se um espaço na família para o pai usufruir a troca de afeto. Da estabilidade emocional masculina ao novo olhar dos filhos em relação à figura paterna, todos saem lucrando.


O ÔNUS DA AUSÊNCIA - "A figura paterna é extremamente importante na formação da personalidade da criança até os cinco anos", afirma a psicóloga e professora Vera Resende, responsável pela disciplina de Psicoterapia Infantil, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Bauru.

À frente do programa de Atenção à Infância e Adolescência, do curso de Psicologia, ela observou que a maioria das suas crianças, entre 3 e 12 anos de idade, reclama a atenção do pai. Os problemas, fala ela, vão desde a agressividade, indisciplina, baixo rendimento escolar até a saúde. Os meninos ressentem-se mais e são a maioria entre os menores inscritos.

- Isso ocorre porque a assistência à infância, na saúde e na escola, convencionalmente, associa-se à figura feminina. É fácil a menina imaginar-se na fase adulta. Já os garotos que vivem nesse mundo cor-de-rosa, iniciam a busca por um referencial masculino que os complete.

Claro que meninas também sofrem com a falta de atenção do pai, e isso pode refletir-se, futuramente, no campo afetivo, profissional, no estabelecimento de vínculos, nas trocas afetivas. No triângulo familiar, o pai é figura central na formação da personalidade da criança. "Se a mãe tende a satisfazer os caprichos, o pai ajuda a fazer um contraponto ou vice-versa". O homem sente dificuldades em reconhecer-se no papel de pai.

Geralmente, perpetua a educação recebida, como provedor e espectador de tarefas domésticas. Culturalmente, "cuidar do outro" é inerente ao feminino.

"Para ele é mais difícil lidar com o emocional, expor seus sentimentos".

Quando indicado, o acompanhamento psicoterápico com os casais dura, em média, um ano e o interessante, nos encontros, é a troca de experiências entre os pais na busca de soluções para resolver os conflitos.

DIVIDINDO A ROTINA - O músico Eduardo Contrera Toro Jr., 39 anos, tem três filhos: Félix, de 11 anos, do primeiro casamento, e as gêmeas Helena e Beatriz, de 4 meses. Como sua mulher também é da área, os horários do casal são irregulares.

"Montamos uma rotina de quartel para cuidar das meninas", brinca. Ao contrário do modelo convencional de família, onde o pai fica fora o dia todo, devido à sua profissão, Eduardo está mais próximo da sua, o que propicia à afetividade.

Ele vivenciou a paternidade em momentos diferentes.

- Na primeira vez, bem jovem, embora ajudasse a cuidar do Félix, sentia-me imaturo frente as responsabilidades. Na época, pensava mais na carreira, viajava muito, e não acompanhei seu crescimento como gostaria.

Criado dentro de princípios rígidos, na adolescência opôs-se à autoridade familiar. "Quando nascem os filhos a tendência é ir contra, soltar as rédeas, mas cheguei à conclusão de que impor limites é essencial para ter o respeito dos filhos". O nascimento das meninas aproximou-o ainda mais de Félix, padrinho das irmãs. "Sinto que estou sendo mais requisitado".


PAI DO ANO - Na festa junina das filhas Verena e Vivian, pré-adolescentes, o empresário Christian Buelau foi chamado de lado pela mãe de uma colega, que estava intrigada com sua "popularidade".

Eleito o pai do ano pelos alunos do Colégio Porto Seguro, nos aniversários das meninas, ele aluga um ônibus que leva mais de 20 adolescentes até a casa da família em Itapecirica da Serra.

Até aí tudo bem, não fosse por um detalhe: a meninada brinca o dia todo e depois dorme no jardim, em barracas de camping. "É uma farra tomar o café da manhã juntos, eles vibram com a idéia", diverte-se. O empresário vê a paternidade como um privilégio e não como um peso.

Para ele, hoje, o relacionamento de pais e filhos visa o companheirismo, o preparo para a vida e a formação da criança como um todo, não apenas a educação e disciplina como em gerações anteriores. "A felicidade está em primeiro plano".

Nesse processo, é preciso ter tempo para se dedicar aos filhos, ouvi-los.

Disso ele não abre mão, seja no lazer em família ou nos encontros promovidos pela escola. "Em conversas com amigos é difícil convencê-los de que muitos problemas de relacionamento poderiam ser evitados se estivessem mais presentes", diz

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