segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Educação e amorosidade

Há duas concepções básicas acerca do fenômeno educativo. E dois tipos de atitudes são gerados a partir destas distintas posições cognitivas. De cada postura cognitiva do que vem a ser o processo de educação, surgem dois modos de convivência distintos, duas práticas educativas: a pautada na amorosidade, que compreende a aceitação do outro e respeito à sua autodeterminação, e a pautada na negação do outro, por achar que tem que se imprimir nele um dever-ser. Uma das concepções sobre a educação consiste na admissão de que educar significa eduzir, desenvolver o que já está dentro, deixar fluir o que existe em potência. Neste sentido, educar é orientar, criar condições para que o ser da criança aflore livremente, e não uma prática de moldagem do outro. A nova epistemologia das ciências afirma não existe instrução, mas uma continua reestruturação interna no indivíduo forjada a partir dos estímulos recebidos. Vigora, também, a concepção de que o processo educativo consiste em um processo de instrução, de infusão de algo de fora para dentro, de que se deve incutir algo para dentro do indivíduo. A partir daí surge a postura de que se pode determinar como a criança deve ser, a partir de algo que lhe é alheio. Neste processo, as práticas educativas compreendem um cinzelamento exterior. Cada posição cognitiva acerca do ato de educar está baseada em uma emoção diferente. Quando a emoção que fundamenta o ato educativo é o amor, pode-se afirmar que o que está em curso é uma educação espiritualizada. Espiritualidade implica, necessariamente, em amorosidade. O amor consiste na aceitação do outro na convivência, sem imposição, sem determinar para o outro como ele deve ser. Trata-se de um modo de atuar no qual a liberdade é uma premissa, pois não estando pautado na exigência, deixa-se o outro expressar sua espontaneidade. Educar no amor é considerar a educação como a criação de um espaço de convivência no qual o outro é legítimo e aceito. Numa história de interações em que há aceitação, há menos conflito pois não haverá o desejo de impor o próprio mundo ao outro. A educação, em sua concepção de modelador externo, não é amorosa: impõe uma forma de ser ao outro, estranho a ele mesmo e em consonância com o mundo privado de quem exige. Se se educa no âmbito da exigência, nega-se o ser da criança, não há aceitação e respeito por ela, e desperta nela o medo de expressar-se em sua inteireza. A criança passa a ter receio de expressar quem ela realmente é. Por não compreender adequadamente o processo educativo, a prática escolar e familiar está pautada na imposição de condutas, e não na configuração de um mundo vivido com o outro no qual ele sinta-se à vontade para criar. Em suma, há duas possibilidades educativas, que partem de emoções e posturas cognitivas diferentes: há o espaço de convivência amoroso, fundado na aceitação do outro em sua legitimidade e há o espaço de convivência não amoroso, fundado na negação do ser do outro. (Autor: Claudiam Pierre) * Artigo originalmente publicado nos Anais do I Encontro Estadual de Educação Popular Paulo Freire na Contemporaneidade. Universidade Federal do Ceará/FACED, 2007.

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