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quinta-feira, 25 de outubro de 2012
DE REPENTE 60 (ou 2x30)
        
     Belo texto, para ser lido por todas as idades. O nome da escritora é
                 Regina de Castro Pompeu e ela diz..........
        De forma despretensiosa, inscrevi um texto no concurso Premios
                   Longevidade Bradesco Histórias de Vida.
        Estou chegando de São Paulo, onde fui participar da premiação.
   Mandaram um motorista me buscar e me trazer e fiquei num super-hotel nos
           Jardins, acompanhada de meu príncipe consorte rsrsrssr.
      Entre quase 200 concorrentes, conquistei o 3o lugar, com direito a
                              troféu e diploma.
   Mas, sinto como se tivesse recebido o Oscar, pois os primeiros colocados
    foram  jovens que trabalharam por alguns anos para escrever histórias
                          que mereciam ser contadas.
          Meu texto foi o único produzido pela própria protagonista.
            O tema central era o realcionamento inter-geracional.
   Quase caí da cadeira quando Nicete Bruno, jurada especial me perguntou:
        "Você é a Regina? Queria muito conhecê-la. Adorei seu texto!!"
      Tive, ainda, o privilégio de ser fotografada ao lado da convidada
                         especial, Shirley MacLaine.
           É muita emoção, que gostaria de compartilhar com vocês.
                           DE REPENTE 60 (ou 2x30)
   Ao  completar  sessenta anos, lembrei do filme “De repente 30”, em que a
   adolescente, em seu aniversário, ansiosa por chegar logo à idade adulta,
   formula  um  desejo  e se vê repentinamente com trinta anos, sem saber o
   que aconteceu nesse intervalo.
   Meu sentimento é semelhante ao dela: perplexidade.
   Pergunto a mim mesma: onde foram parar todos esses anos?
   Ainda  sou  aquela  menina  assustada  que  entrou  pela primeira vez na
   escola,  aquela  filha  desesperada pela perda precoce da mãe; ainda sou
   aquela  professorinha  ingênua  que enfrentou sua primeira turma, aquela
   virgem  sonhadora  que  entrou  na  igreja,  vestida  de branco, para um
   casamento que durou tão pouco!Ainda sou aquela mãe aflita com a primeira
   febre do filho que hoje tem mais de trinta anos.
   Acho  que  é  por  isso  que engordei, para caber tanta gente, é preciso
   espaço!
   Passei  batido  pela  tal  crise  dos trinta, pois estava ocupada demais
   lutando pela sobrevivência.
   Os  quarenta  foram  festejados  com  um baile, enquanto eu ansiava pela
   aposentadoria  na  carreira  do  magistério,  que  aconteceu quatro anos
   depois.
   Os cinquenta me encontraram construindo uma nova vida, numa nova cidade,
   num novo posto de trabalho.
   Agora,  aos  sessenta,  me pergunto onde está a velhinha que eu esperava
   ser  nesta  idade  e  onde  se escondeu a jovem que me olhava do espelho
   todas as manhãs.
   Tive   o   privilégio   de  viver  uma  época  de  profundas  e  rápidas
   transformações  em  todas as áreas: de Elvis Presley e Sinatra a Michael
   Jackson,  de  Beatles  e  Rolling Stones a Madonna, de Chico e Caetano a
   Cazuza  e  Ana  Carolina;  dos  anos  de  chumbo  da ditadura militar às
   passeatas pelas diretas e empeachment do presidente a um novo país misto
   de  decepções  e esperanças; da invenção da pílula e liberação sexual ao
   bebê  de proveta e o pesadelo da AIDS. Testemunhei a conquista dos cinco
   títulos mundiais do futebol brasileiro (e alguns vexames históricos).
   Nasci  no  ano em que a televisão chegou ao Brasil, mas minha família só
   conseguiu  comprar um aparelho usado dez anos depois e, por meio de suas
   transmissões,  vi  a chegada do homem à lua, a queda do muro de Berlim e
   algumas guerras modernas.
   Passei  por  três  reformas  ortográficas  e  tive  de  aprender  a nova
   linguagem  do  computador  e da internet. Aprendi tanto que foi por meio
   desta  que conheci, aos cinquenta e dois anos, meu companheiro, com quem
   tenho, desde então, compartilhado as aventuras do viver.
   Não me sinto diferente do que era há alguns anos, continuo tendo sonhos,
   projetos, faço minhas caminhadas matinais com meu cachorro Kaká, pratico
   ioga, me alimento e durmo bem (apesar das constantes visitas noturnas ao
   banheiro),  gosto  de  cinema, música, leio muito, viajo para os lugares
   que um dia sonhei conhecer.
   Por  dois  anos não exerci qualquer atividade profissional, mas voltei a
   orientar  trabalhos  acadêmicos  e  a  ministrar  algumas disciplinas em
   turmas  de  pós-graduação,  o  que me fez rejuvenescer em contato com os
   alunos,  que  têm  se  beneficiado de minha experiência e com quem tenho
   aprendido muito mais que ensinado.
   Só  agora  comecei a precisar de óculos para perto (para longe eu uso há
   muitos  anos) e não tinjo os cabelos, pois os brancos são tão poucos que
   nem se percebe (privilégio que herdei de meu pai, que só começou a ficar
   grisalho após os setenta anos).
   Há  marcas  do tempo, claro, e não somente rugas e os quilos a mais, mas
   também  cicatrizes,  testemunhas de algumas aprendizagens: a do apêndice
   me  traz  recordações do aniversário de nove anos passado no hospital; a
   da cesárea marca minha iniciação como mãe e a mais recente, do câncer de
   mama  (felizmente  curado),  me  lembra  diariamente que a vida nos traz
   surpresas nem sempre agradáveis e que não tenho tempo a perder.
   A  capacidade  de fazer várias coisas ao mesmo tempo diminuiu, lembro de
   coisas que aconteceram há mais de cinquenta anos e esqueço as panelas no
   fogo.
   Aliás,   a   memória   (ou  sua  falta)  merece  um  capítulo  à  parte:
   constantemente  procuro  determinada  palavra ou quero lembrar o nome de
   alguém  e  começa  a  brincadeira  de  esconde-esconde.  Tento  fórmulas
   nemônicas,  recito  o  alfabeto mentalmente e nada! De repente, quando a
   conversa  já  mudou de rumo ou o interlocutor já se foi, eis que surge o
   nome ou palavra, como que zombando de mim...
   Mas, do que é que eu estava falando mesmo?
   Ah, sim, dos meus sessenta.
   Claro  que  existem  vantagens:  pagar  meia-entrada (idosos, crianças e
   estudantes  têm  essa  prerrogativa,  talvez porque não são considerados
   pessoas  inteiras),  atendimento prioritário em filas exclusivas, sentar
   sem  culpa  nos  bancos  reservados do metrô e a TPM passou a significar
   “Tranquilidade Pós-Menopausa”.
   Certamente  o saldo é positivo, com muitas dúvidas e apenas uma certeza:
   tenho  mais  passado que futuro e vivo o presente intensamente, em minha
   nova condição de mulher muito sex...agenária!
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