terça-feira, 26 de junho de 2012

Crianças e a construção de limites

Questões econômicas e sociais como o processo de industrialização, a conquista dos direitos da mulher e sua participação crescente no mercado de trabalho têm gerado mudanças significativas nas configurações familiares, nas relações entre crianças e adultos e nas práticas educacionais. Estratégias educativas consideradas adequadas em épocas anteriores são questionadas na atualidade. Wagner, Predebon e Falcke (2005) salientam que novos padrões, valores e modelos de relação são estabelecidos entre pais e filhos, permeados pelas expectativas e ideais sociais. As novas exigências sociais estabelecem como ideal a independência, a competitividade, a espontaneidade e a iniciativa, o que requer práticas educativas menos autoritárias e mais democráticas, conforme salientam Oliveira e Caldana (2004). Como umas das conseqüências deste cenário, Paggi e Guareschi (2004) descrevem a queda da autoridade parental e a prevalência de relações mais permissivas entre adultos e crianças. A questão dos limites surge, então, como uma problemática recorrente nas práticas educativas atuais. O estabelecimento de limites é, nos dias de hoje, uma das mais inquietantes questões discutidas por profissionais da área da educação e do desenvolvimento infantil. La Taille (1999) observa que, com freqüência, limite é um termo associado à obediência, ao respeito, à retidão moral e à cidadania. Para ele, a palavra sugere, de um lado, fronteira, delimitação entre territórios e, de outro, a possibilidade de transpor e ir além. O autor salienta três dimensões da palavra limites: transpor limites para alcançar a maturidade, respeitá-los em favor da moralidade e, por último, a idéia de construir limites que permitam a preservação da intimidade. No campo da educação, o termo é usado no sentido usual e restritivo e trata daquilo que é permitido ou proibido, em prol da moralidade. Embora a definição de limites vinculada a um marcador moral envolva a obediência a regras e normas, em um primeiro momento, o significado da moralidade é muito mais amplo. De acordo com La Taille (2001), um ato moral está ligado ao respeito aos direitos alheios, ao cuidado em levar em conta a singularidade e as necessidades do outro e a consideração do bem comum. A construção de limites está, então, diretamente implicada na capacidade da criança de socialização e convivência bem-sucedidas, de forma que ela possa reconhecer e considerar os próprios limites e os dos demais. A questão dos limites na educação infantil tem se revelado uma dificuldade tanto para pais quanto para professores. Neste estudo foram investigadas as representações sociais de mães e professoras sobre limites no desenvolvimento infantil. O estudo contou com a participação de 14 mães e oito professoras de educação infantil de escolas particulares de Porto Alegre. A entrevista narrativa e a análise de conteúdo foram utilizadas como procedimentos de coleta de dados e análise. Os resultados indicaram que os limites são representados como fronteira a ser respeitada em prol da moralidade. A prática do diálogo é um recurso presente nas narrativas de mães e professoras, assim como a necessidade de tolerância. Ambas demonstram muitas dúvidas e culpas no tocante aos limites a serem impostos às crianças. As professoras atribuem a responsabilidade da falta de limites às famílias, já as mães não percebem a escola como uma aliada no processo de construção de limites. Greicy Boness de AraujoI; Tania Mara SperbII IPsicóloga, Mestre em Psicologia. Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul IIPsicóloga, Phd em Psicologia do Desenvolvimento. Professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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