terça-feira, 13 de março de 2012

SER CRIATIVO NO MUNDO DE HOJE

Por Marcus Tavares Um grande cavalo de madeira como presente. Em seu interior, um exército pronto para invadir e dominar a cidade. Pirâmides: estruturas monumentais construídas com mais de dois milhões de blocos de pedra e estrategicamente posicionados. Em solo marciano, robô humano canta samba brasileiro para dar boas-vindas. A história confirma: a criatividade humana não tem limites. Em qualquer povo, tempo e espaço não faltam exemplos de como homens e mulheres foram capazes de criar para se proteger, defender, vencer, descobrir e curar. Criar para libertar, degustar, extravasar, superar. Criar para viver. Quem estuda o assunto diz que a produção criativa não pode ser atribuída exclusivamente a um conjunto de habilidades e traços da personalidade do criador. É preciso levar em conta o contexto social, histórico e cultural que influencia a capacidade inventiva. Para Mihaly Csikszentmihalyi, professor de Psicologia e Educação da Universidade de Chicago, é mais fácil desenvolver a criatividade das pessoas mudando as condições do ambiente, do que tentando fazê-las pensar de modo criativo. Membro da Academia Nacional de Educação e da Academia Nacional de Ciências do Lazer dos EUA, Csikszentmihalyi diz que a criatividade não está dentro dos indivíduos, mas é resultado da interação entre os pensamentos do sujeito e o contexto sociocultural. Ele afirma que a criatividade deve ser compreendida não como um fenômeno individual, mas como um processo sistêmico. Na sua avaliação, é um processo que resulta da interseção de três fatores: o indivíduo, que traz uma bagagem genética e experiências pessoais; o domínio da cultura ou de parte dela, que se traduz num conjunto de regras e procedimentos simbólicos estabelecidos entre os pares de uma comunidade; e o campo, ou seja, a sociedade, que tem a função de decidir se uma nova ideia ou produto é ou não criativo. A concepção encontra eco na Psicologia do educador Lev Vygotsky. Para o teórico russo, o processo de constituição do sujeito é, inexoravelmente, social. Neste sentido, a atividade criadora é mediada pelo entorno histórico, social e cultural. O indivíduo é capaz de criar a partir dos/nos encontros que estabelece com outros sujeitos, encontros mediatizados pelas possibilidades e limites das relações sociais em cada momento histórico. De acordo com Vygotsky, a atividade envolve diversos processos psicológicos, entre os quais se destacam: a percepção de determinados aspectos da realidade e a acumulação, pela memória, dos elementos mais significativos; a reelaboração desses elementos por meio da fantasia, processo no qual estão presentes tanto a cognição quanto a vontade e o afeto; e a objetivação do produto da imaginação, que, ao materializar-se na realidade, traz consigo uma nova força, que se distingue por seu poder transformador frente à realidade da qual partiu. Para o sociólogo italiano Domenico De Masi, hoje mais do que nunca, o ser humano tem mais tempo para desenvolver sua criatividade, já que dispõe de uma infinidade de tecnologias que substituem o trabalho. “Em Atenas, na era de Péricles, havia 40 mil homens livres, 20 mil estrangeiros naturalizados e 350 mil escravos. Cada homem livre tinha, entre escravos, esposas e donas de casa, oito ou nove pessoas à sua disposição. Atualmente, para fazer o que essa gente toda fazia, temos lava-louças, máquinas de lavar, elevadores, telefones…”, afirma. É neste mundo globalizado e mediado pelas tecnologias que a criatividade dos indivíduos vem cada vez mais sendo requisitada. Seja em casa ou no trabalho, se busca de todas as maneiras novas formas de agir, de pensar e de atuar. Ser criativo é pré-requisito no amor, no trabalho, na criação dos filhos, na escola, na relação interpessoal, na vida. Às vezes, é a chave para conseguir sobreviver num mundo caótico e de poucas oportunidades. Não é à toa que as livrarias oferecem livros de auto-ajuda que ensinam o caminho para potencializar a criatividade. Sim, há dicas – e várias – de como o indivíduo pode maximizar o seu poder de criação. Há quem diga que num mundo saturado de imagens, textos e sons, a criatividade vem da desinformação e da deformação. Outros questionam se a originalidade é necessária. É possível ser criativo a partir do que já aconteceu ou existiu? Carlos Drummond de Andrade ensinava, ironicamente, que o desenvolvimento da originalidade possui algumas etapas, a primeira das quais é imitar os modelos clássicos, e a última: imitar-se a si mesmo até a morte! No campo da produção artística, o debate é polêmico. Ainda mais quando envolve a questão da propriedade intelectual. Na sociedade contemporânea, na qual, em principio, todos os indivíduos têm a oportunidade de produzir, reconstruindo e reinterpretando as narrativas, e onde se convive com a sensação de que tudo já foi criado, como ser criativo? Quem é o autor? De onde vem a criatividade? A criação se torna mais fácil? Mais desafiante? Para estas questões, sem dúvida alguma, há respostas que levam a outras indagações. O debate é instigante e provocativo. E para você: o que é ser criativo?

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