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sábado, 5 de julho de 2014
Medo de arricar
Comentando o “Se eu fosse você''
A questão da semana é o caso da internauta que, há cinco anos, foi abandonada pelo marido. O sofrimento foi tão intenso que ela agora teme aprofundar a relação com o namorado atual.
A situação que viveu no casamento é semelhante a de muitas pessoas que, ao encontrar um parceiro, o transformam em única fonte de interesse. Alimentam a crença de que não ter uma relação amorosa fixa e estável com uma única pessoa significa ser incompleto, ou seja, totalmente desamparado. Na nossa cultura, somos incentivados, desde muito cedo, a acreditar que só é possível ser feliz se tivermos alguém ao nosso lado.
Da mesma forma como a criança pequena se desespera com a ausência da mãe, o adulto, ao perder o objeto de amor, é invadido por uma sensação de falta e de solidão. Além disso, quando fracassa um projeto amoroso, a pessoa perde o referencial na vida e sua autoestima fica abalada.
Por temer ser abandonada novamente, nossa internauta resiste a experimentar uma aproximação maior com o atual namorado. Concordo com o psicólogo italiano Willy Pasini quando diz que a intimidade exige o abandono da couraça que protege o que temos de mais íntimo: quanto mais a intimidade é compartilhada, mais o outro tem livre trânsito para as nossas coisas mais secretas. Mas só uma autoestima elevada leva a viver tal “despir-se” como oportunidade, e não como ameaça. Quem pensa que deve esconder as partes de si, que considera inconfessáveis, vive inevitavelmente a intimidade como se fosse um risco pessoal.
Para Winnicott, psicanalista inglês, as pessoas com dificuldade nos contatos pessoais são indivíduos fechados numa dura couraça que protege um núcleo central inseguro e mole. Todo processo de amadurecimento pessoal consiste nessa progressiva conquista de uma cada vez maior confiança em si mesmo. Só nessas condições uma pessoa poderá baixar a guarda sem medo e transformar a couraça numa membrana periférica e permeável às trocas com os outros.
E o terapeuta e escritor Roberto Freire também contribui para a reflexão sobre o fantasma do abandono vivido nesse caso. Ele não tem dúvida de que risco é sinônimo de liberdade e que o máximo de segurança é a escravidão. Freire acredita que a saída é vivermos o presente através das coisas que nos dão prazer. A questão, diz ele, é que temos medo, os riscos são grandes e nossa incompetência para a aventura nos paralisa. Entre o risco no prazer e a certeza no sofrer, acabamos sendo socialmente empurrados para a última opção.
Fonte: http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2013/11/02/o-fantasma-do-abandono/
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